domingo, 6 de dezembro de 2009

Mas que raio de país é este?

Em alguns países, por sinal bem mais desenvolvidos do que Portugal, quando um cidadão maltrata um animal ou não presta assistência a um animal acidentado (principalmente quando o próprio cidadão está envolvido no acidente), essa pessoa incorre na mesma sanção penal do que se actuasse da mesma forma relativamente a um ser humano...

Em Portugal, quando um cidadão tem a infelicidade de atropelar um cão e sai do carro para tentar ver o seu estado e fazer tudo para auxiliar o animal, é confrontado com transeuntes despreocupadamente espectadores que apenas soltam infelicidades do tipo "amigo, não fique assim, não teve culpa nenhuma", "deixe lá, não deve haver nada a fazer", "ele não se deve safar, mais vale levar a injecção"... Isto, depois do bicho ter ficado todo abananado com o embate e ter-se deslocado com bastante dificuldade até à berma da estrada, onde acabou por se deitar e ficar imobilizado à chuva, respirando com profundidade e apenas mexendo os olhos...

O cidadão não se conforma, chama a família mais chegada e com esse apoio consegue forma de chamar um veterinário ao local... O veterinário chega, aparentemente incomodado por o estarem a chatear para uma coisa daquelas a um sábado à tarde, e ainda interroga aquelas pessoas sobre o que é que querem que ele faça...

As pessoas em questão respondem-lhe que não são qualificadas para o efeito, e que por isso o que querem é que seja ele a prestar assistência ao bicho... O veterinário tem a lata de retorquir "pois, e mesmo que o cão se safe, quem é que depois ia ficar com ele?"... As pessoas respondem que isso naquele momento não interessa nada... O veterinário analisa os membros do animal, ausculta-lhe os batimentos, vê-lhe a boca e os olhos... O cão só mexe os olhos e respira com profundidade...

Um transeunte despreocupadamente espectador refere que o cão já deve é estar em sofrimento e que, se calhar, o que mais valia era aliviar-lhe esse sofrimento definitivamente... O veterinário refere que isso é algo que ele até pode fazer ali mesmo, mas lança a interrogação de quem depois fará o quê com o corpo do animal...

A família pede o diagnóstico... O veterinário diz que o cão não parece ter qualquer membro partido, que o pior que pode acontecer é eventualmente ele ter alguma hemorragia interna (que seria fatal)... A família manifesta a intenção de fazer tudo o que possa ser feito pelo animal e lembra o veterinário que ele foi chamado por eles (assumindo essa responsabilidade) para lhe dar todo o tratamento possivel, solicitando-lhe que actue como se se tratasse dum animal de estimação de alguém... O veterinário liga a boca do cão para que ele não morda e dá a indicação à família para que o meta num dos carros e o leve à clínica, sem sequer ajudar no processo... O bicho nem sequer precisaria de levar a boca amarrada, não rosnaria sequer, antes agradecia com o olhar...

Vai caladinho o caminho todo... Quando chega à clínica (positivamente curioso sobre o que iria acontecer), não pode ser logo colocado numa marquesa, tem que esperar um bocadinho logo ao lado da mesma, no chão... Quando o veterinário entra no consultório lá acede a tratar o bicho, colocando-o na marquesa e dando-lhe um analgésico... Rapa-lhe uma pata e deixa-o a soro, num quarto ao lado, deitadinho numa jaulinha própria para o efeito... Há-de lá passar a noite naquele quarto, com a portinha da jaula aberta e uma mantinha cá fora, ao lado dumas folhas de jornal, água e, quem sabe, alguma comida...

Nunca vomitou sangue (ou outra coisa qualquer)... Pode ser que um azar assim até lhe possa significar uma sorte grande a curto/médio prazo...

Cá neste cantinho à beira-mar plantado conseguimos ser muito cruéis, mas ainda temos aqueles para os quais tentar todos os possíveis é a única via aceitável... Força, Faísca...

5 comentários:

  1. Estou mesmo emocionada com o que escreveste e eu não consegueria relatar melhor o que nos aconteceu ontem!
    Estou tão orgulhosa de nós! Não conseguiria conceber outra forma de lidar com a situação e só tenho pena de nós sermos a excepção e não a regra! Como diz Gandhi ”A grandeza de uma nação e o seu progresso moral pode ser medido pelo modo como seus animais são tratados”, por isso a sociedade portuguesa ainda tem muito que amadurecer para sermos um país desenvolvido!
    Estou mesmo feliz por saber que o Faísca está a melhorar! Valeu a pena o esforço :-)

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  2. O que escreveste só mostra que tens um coração do tamanho do mundo. O Faísca vai ficar bem...Nada acontece por acaso. Amo-te cada vez mais...se isso ainda for possível!

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  3. O nosso Faísca teve a sorte da vida dele.
    Estava na rua, foi atropelado mas vai ter uma família a ama-lo para sempre.
    Há males que vêm por bem!

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  4. Se eu não vos conhecesse e vos comprasse, que rica prenda que me saía!!
    È assim mesmo, que sirva de lição a muitos "animais"!!
    Força aí Faísca Falcão, não sabes o bem que escolheste o carro para te atropelar.
    Abraços

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  5. os únicos animais deste país são muito boa gente de duas patas. A história não me espanta, mas só tenho que me orgulhar de ter amigos que são a excepção à regra! Felizmente ;)

    Grande abraço e as melhoras para o Faísca

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